Editorial

Nunca mais

Leitor, faça um exercício qualquer dia desses. Vá à Bibliotheca Pública Pelotense e peça para acessar o arquivo do Diário Popular após 31 de março de 1964. Por lá, você certamente encontrará, além de reportagens sobre a época, muitas receitas que certamente renderão um bom prato para fazer para a família algum dia. Mas não encontrará nada sobre a repressão ditatorial que o Brasil vivia naquele momento. As receitas são o que se chama, no linguajar das redações, de "calhau". Uma solução rápida e prática para preencher um espaço que ficou sobrando, seja por a reportagem ter ficado mais curta do que o esperado, seja por não ter rendido o suficiente.

O calhau da receita de bolo é um clássico que era colocado quando o texto era censurado. Essa, aliás, é uma palavra muito usada hoje mas que na época, de fato, era padrão. Havia um departamento de censura que avaliava antes as reportagens, algo impensado nos dias atuais. Após o fechamento das edições, quando a reportagem ou artigo não era aprovado, ia algo no lugar para preencher aquele espaço que ficaria vazio.

Esse é apenas um recorte palpável do período de trevas que o Brasil viveu naquele momento. Sem liberdade de expressão. Muitas vezes isso ainda é motivo de debate, de análises saudosistas e tudo mais. O fato é que, há 60 anos, contando deste domingo, o Brasil mergulhava em um dos períodos mais obscuros de sua história, em que a Pátria, o Estado brasileiro, matava seus cidadãos por divergência de opinião. Em que a liberdade de expressão era arrancada do povo. Em que a corrupção, existente, não era vista por que a imprensa era vedada de investigar.

A reportagem da página 3 desta edição traz um pouco, um recorte mínimo, de um período obscuro que o País viveu durante 21 anos. Algo que, por mais que vivamos períodos ruins dentro de governos atuais, independentemente da ideologia, não pode sequer ser cogitado. Nada é mais importante que o direito democrático de eleger e de cobrar os eleitos. De opinar e arcar com as consequências sem medo de tortura ou morte. Cada declaração saudosista de uma ditadura é uma agressão à memória daqueles que foram mortos pelo Estado brasileiro, que deveria ser sempre o responsável pelo bem-estar do seu cidadão.

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